Um amigo meu, galego, Luis Dorado, excelente fotógrafo de natureza, informou-me há cerca de um mês da presença de borrelhos-ruivos (Charadrius morinellus) numa montanha a uns 50 km de minha casa. Pelo que me disse, a passagem desta espécie de ave pelo local já se repete há vários anos durante Setembro/Outubro, provavelmente durante a migração desta ave pouco comum entre nós. Das quatro espécies de borrelhos que ocorrem no nosso país, esta é a mais rara e eu não podia perder esta oportunidade de ouro para a fotografar. Quando chegamos ao alto da montanha, vimos vir na nossa direcção duas pessoas, tendo uma delas ao tiracolo uma câmara fotográfica com teleobjectiva, sinal evidente de que tinham vindo com o mesmo propósito que nós. De facto assim era e depois dos cumprimentos habituais, informaram-nos de que tinham acabado de avistar o pequeno grupo de borrelhos num local a cerca de 300 m de distância. Dirigimo-nos para lá e voltamos a encontrar mais dois interessados no mesmo que nós, desta vez a bordo de um todo-terreno, pois um dos ocupantes era deficiente motor. Uma vez mais, foi-nos dito que os borrelhos estavam a 100 m de nós, mas quando chegamos ao local de borrelhos não vimos sinal desta ave. Procuramos com atenção numa vasta área, onde o solo tinha como revestimento ervas secas e semi-secas, pedras e um ou outro pequeno arbusto e, no meio desta desolação, uma notas de cor provenientes da Scilla autumnallis que, desafiando a severa seca deste verão de 2016, insistia em sobreviver e florescer. As poças de água existentes no local estavam igualmente secas, via-se o fundo poeirento despido de vegetação. Nas rochas próximas e descendo de vez em quando ao solo, um pequeno grupo de três Oenanthe oenanthe desafiavam a minha Nikkor 600 mm f4. Não fui capaz de resistir.
Depois de procura infrutífera e quando já se tinha juntado a nós Manuel Sobriño Senra, um blogger naturalista (http://elnaturalistacojo.blogspot.pt/) que vale muito a pena seguir, decidimo-nos regressar dando-nos por vencidos. Nesse momento, Luis Dorado grita “Estão ali” e os olhos ávidos e meio incrédulos perscrutaram o solo em busca das aves. Não consegui encontrá-las de imediato mas depois de uns segundos mais de esforço consegui finalmente avistá-las. O momento da acção tinha chegado. Montamos rapidamente os tripés, colocamos as teleobjectivas em cima e logo se ouvia o matraquear da Nikon D4 (minha) e da D800 (do Luis). A ave é tão mansa que em vez de se afastar de nós se aproximou ao ponto de não caber no enquadramento das potentes lentes (Nikkor 600 mm no meu caso e Nikkor 500 mm no caso do Luis). Tirei mais de 90 fotos e quando me senti saciado tanto eu como os meus colegas ficamos simplesmente observando aqueles três seres maravilhosos deslocando-se em curtas corridas de um lado para o outro em busca de comida.
O sol, entretanto, tinha descaído para o horizonte ameaçando calcinar o cume da montanha. Havia uma luz dourada passando de rasante sobre o pequeno planalto onde nos encontrávamos, marcando as silhuetas dos cavalos que por ali pastavam só eles sabem o quê; havia também uma suave brisa de ar muito leve, feita apenas de frescura como somente nos cumes se encontra, e o silêncio profundo que vem das entranhas da terra e nos faz criar raízes na alma. Apeteceu-me abraçar aquelas três aves, seres maravilhosos feitos de plumas e de vento, com uns olhos grandes e negros, profundos, donas do espaço sem fronteiras. Ai, se pudesse… Disse-o ao meus colegas e ambos sorriram, creio eu porque sentiam o mesmo. Mas era hora de voltar. Agradeci às aves o momento belo que nos tinha proporcionado e todos tememos pela suas vidas pois dias depois seria dia de caça e uma aves tão mansas como estas seriam vitimas fáceis da crueldade estúpida de caçadores.
É difícil aceitar que uma prática tão bárbara ainda persista nos tempos actuais onde nada a justifica tanto eticamente como enquanto forma de subsistência; nas sociedades ocidentais ninguém depende da caça para sobreviver e, assim sendo, somente é praticada por pessoas cruéis incapazes de criar outros laços com os seres que matam senão os da morte. A sublimação do instinto de caça, que a cultura moderna exige a todos os cidadãos conscientes e bem formados, pode ser feita através de muito meios de expressão artística – como a fotografia, a pintura, etc. – ou simplesmente fruindo a sua contemplação mediante um par de binóculos baratos. O planeta Terra não é propriedade exclusiva do animal humano e muito menos o são os restantes seres que nele habitam, sobretudo os que são dotados de sensibilidade à dor. Aprender a viver neste planeta de todos é uma tarefa que urge iniciar, reformulando a visão tradicional que tem raízes no cristianismo, judaísmo e na filosofia grega. Esta será a maior das revolução até agora efectuadas pela nossa espécie, a mais difícil e a mais urgente nos tempos que correm.
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