Acerca de mim
Apaixonado pela natureza desde criança, cultivei esta paixão ao longo da vida através do estudo e do contacto direto com o meio natural. O meu interesse pela astronomia e ciências afins deu-me uma visão profunda da estrutura do universo, ou seja, da natureza global, que foi fundamental para o despertar de uma enorme paixão pelos seres que partilham comigo o habitat chamado Planeta Terra.
Leitor incansável de muitas e variadas obras versando qualquer área do conhecimento, ferramentas indispensáveis no acto de mediação entre mim enquanto sujeito pensante e o mundo exterior enquanto espaço passível de apreensão cognitiva, também a fotografia teve desde cedo um papel fundamental na minha relação cada vez mais intensa e profunda com os seres naturais que me rodeiam, pela capacidade de cristalização das formas e das cores, como documento capaz de perdurar no tempo e pela presentificação e partilha dos momento de êxtase estético que sempre estão associados à vida de quem ama e vive para a Natureza.
Dadas estas premissas, fácil é adivinhar que a fotografia, em especial a de natureza, se tornou cada vez mais um interesse central na minha vida, e a câmara fotográfica uma ferramenta sempre presente no meu dia a dia. As imagens captadas não se destinam a ser apenas registos inermes arrumados em gavetas ou gravados em discos duros, sendo antes peças fundamentais das minhas palestras, livros e exposições nos locais onde frequentemente sou chamado para ações de educação ambiental e divulgação do património natural. Claro está que muitas delas tiveram o seu total aproveitamento em publicações de diversa índole.
Ao longo de todo o tempo decorrido entre a iniciação e o momento atual, o meu interesse pela botânica transformou-se numa paixão absoluta, o que me levou a estudar empenhadamente esta ciência ao ponto de elaborar guias de campo de flora vascular, flora micológica, aves e borboletas relacionadas com espaços concretos, com texto e fotos da minha autoria.
O banco de imagens relativo a estas áreas vai crescendo aceleradamente evidenciando, pelo pormenor de detalhes, que se destinam, na sua maioria, à identificação de espécies, uma vez que representam pormenores específicos fundamentais na identificação das espécies.
O trabalho e o estudo continuam, num esforço sempre constante de fazer crescer o seu número e melhorar a sua qualidade.
ÉTICA
Porventura a mais esquecida de todas as áreas da ética, a ética ecológica, em suas múltiplas variantes, tem vindo a merecer um crescente interesse e desenvolvimento mercê dos problemas ambientais que os tempos modernos têm vindo a criar. O fotógrafo de natureza tem um papel relevante neste campo, quer negativamente pela sua intromissão no espaço natural onde desenvolve grande parte do seu trabalho, quer positivamente pelo papel educativo, informativo e divulgativo que pode desenvolver em virtude do conhecimento que tem dos diversos meios naturais onde opera e da documentação visual que cada fotografia captada potencialmente constitui. A parte negativa pode e deve ser minimizada, respeitando os habitats, os hábitos de vida dos seres que os ocupam, mantendo as distâncias e os hábitos correctos de abordagem, enfim, interferindo o menos possível com a vida dos seres que fotografa. Tendo em consideração o quanto de positivo tem o papel do fotógrafo de natureza, os aspectos negativos quase nada representam no saldo final. Mas convém ter sempre presente que uma boa foto não vale tudo.
A minha relação ética com a natureza rege-se pelas regras mais exigentes, fruto do amor e profundo respeito que nutro pela natureza. Nela se conjuga o conhecimento ecológico, e filosófico, a noção de que o homem é apenas mais um ser entre os outros com direitos e com deveres, a consciência da fragilidade das relações interespecíficas e da responsabilidade que cabe ao ser humano no desempenho do seu papel enquanto ser biológico e ser de cultura.
Para mim, enquanto pessoa e enquanto fotógrafo de natureza, está totalmente excluída a ideia de que, por simplesmente pertencer à espécie humana, tenho mais direitos do que outros seres sensientes à vida ou à realização da minha natureza específica. Por isso sou vegetariano. Não posso aceitar que o meu conforto ou prazer se faça à custa do sofrimento de seres inocentes se tenho alternativas que o podem evitar. Considero que todos os seres naturais, principalmente os que têm capacidade de sentir sofrimento, têm direito a viver a sua vida natural em liberdade e com a menor interferência humana possível. Este é um valor ético fundamental na minha condição de fotógrafo naturalista, que tem como consequência a exclusão do meu espaço de aceitação moral jardins zoológicos, circos, espaços confinados como jaulas, gaiolas e outras formas de limitação da liberdade dos animais.
Chegados a este ponto escusado será dizer que práticas selvagens e cruéis como a caça, a pesca, as touradas, as experiências científicas com animais em laboratórios e outras atitudes – para usar uma terminologia suave – são totalmente inadmissíveis e incompatíveis com a responsabilidade cultural e o grau de desenvolvimento tecnológico e científico que a humanidade tem nos tempos atuais. Evidentemente, ficam excluídos todos os grupos humanos cuja sobrevivência depende da caça e/ou da pesca, por não terem alternativa.
O progresso humano, o bem-estar, o desenvolvimento científico têm de ter os seus limites, não podem ser construídos dentro de uma lógica eticamente míope de que tudo vale para atingir os fins. É uma revolução que a humanidade terá de fazer e que por ser longa terá de ser iniciada já. Os seus alicerces já estão a ser construídos. Eles começam na consciência de cada um de nós e esse começo dá-se quando admitimos que os restantes seres sencientes – precisamente por serem sencientes – não são diferentes dos humanos.
Como fotógrafo de natureza, e tendo sempre em consideração que este planeta é de todos os seres que nele habitam, quero confessar que nada me faz mais feliz do que embrenhar-me na natureza, seja ela a costa marinha, uma colina íngreme, o cume de uma montanha, o vale fértil de um rio, um bosque escondido na bruma, de câmara na mão, o olhar atento, a alma aberta e humilde, podendo chamar pelo nome cada planta, cada ave, cada pedra, procurando captar a beleza de tudo quanto vejo sem o peso na consciência pela morte voluntária de nenhum ser com capacidade de sentir sofrimento. Esta vivência faz-me sentir aquilo que de facto sou: irmão de todos eles.